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Ausência em premiação de Life is Strange expõe crise nos bastidores da Deck Nine

Life is Strange: Double Exposure

Por trás do troféu dourado, um estúdio em colapso.

O momento em que Double Exposure foi anunciado como vencedor na Game Developers Choice Awards deveria ser de celebração. O jogo, estrelado pela icônica Max Caulfield, brilhou ao abordar luto, maturidade e responsabilidade emocional com sensibilidade e profundidade. Mas enquanto outros times atravessavam o palco radiantes, nenhum representante da Deck Nine Games apareceu para receber o prêmio.

E isso não foi por acaso.

A vitória que escancarou um colapso

Segundo relatos de ex-funcionários e publicações nas redes sociais, cerca de 20% da equipe da Deck Nine foi demitida no início de 2024. O corte atingiu diretamente membros do núcleo criativo de Double Exposure. Não estamos falando de ajustes pontuais, mas de uma reestruturação que desfez parte do time responsável por um dos jogos mais sensíveis da temporada.

Isso gerou uma cena simbólica: um prêmio que ninguém pôde (ou quis) receber. Um jogo que fala sobre empatia, mas que nasceu em um ambiente marcado pela instabilidade.

Um prêmio… sem dono

A ausência causou estranhamento. Afinal, Double Exposure superou jogos respeitados como Venba e Terra Nil. Mas quem testemunhou os bastidores entendeu o recado.

“É apropriado que ninguém estivesse lá para aceitar o prêmio que Double Exposure ganhou, porque todos nós fomos demitidos rs. Um grupo de nós está na GDC, mas não sabíamos que tínhamos sido indicados, então ninguém estava preparado para aceitar nada.”
Elizabeth Ballou, ex-designer de narrativa da Deck Nine

“Quase todos os jogos que ganharam tinham pessoas passando, radiantes, com o troféu na mão. O que chamou a atenção foi que, para Life is Strange, que ganhou o prêmio de Impacto Social, não havia ninguém.”
Stephen Totilo, jornalista do Game File

Essa ausência virou uma declaração silenciosa. Uma espécie de protesto involuntário — ou talvez, inevitável.

Deck Nine em crise: demissões e silêncio

A Deck Nine enfrenta tempos difíceis. As demissões ocorreram em duas fases, refletindo problemas financeiros e internos:

  • Fevereiro de 2024: corte de 20% da equipe;
  • Dezembro de 2024: nova leva de demissões, número não divulgado.

O CEO Mark Lyons tentou justificar os cortes com um comunicado corporativo:

“Hoje, estamos tristes em compartilhar a notícia de que precisamos nos despedir de alguns membros talentosos de nossa equipe. Essa foi uma decisão extremamente difícil e reflete os tempos desafiadores que muitas empresas do nosso setor estão enfrentando atualmente.”

Enquanto isso, o silêncio da publisher e a ausência de um cronograma de lançamento para o jogo deixam fãs e desenvolvedores no escuro.

Quando o discurso não bate com a prática

Double Exposure foi premiado por seu “impacto social”, mas a realidade dos criadores aponta para um outro tipo de impacto: o de um mercado que valoriza o produto final, mas não quem o constrói.

A ironia é cruel.

Jogos como Life is Strange nasceram justamente para nos fazer refletir sobre empatia, conexão e humanidade. Mas o que acontece quando a própria indústria não oferece essas qualidades a seus trabalhadores?

Uma indústria em colapso — e começando a reagir

As demissões na Deck Nine não são um caso isolado. 2024 foi um ano devastador para desenvolvedores. Estúdios de médio e grande porte demitiram milhares para conter custos. Essa realidade impulsionou um movimento histórico nos Estados Unidos: a formação do United Videogame Workers, o primeiro sindicato da indústria de games na América do Norte, unindo funcionários de Activision, Blizzard, Bethesda e Sega.

Estudio-de-Life-is-Strange-Deck-Nine-vai-demitir-20-de-seus-funcionarios-1024x640 Ausência em premiação de Life is Strange expõe crise nos bastidores da Deck Nine

Enquanto isso, a ausência da equipe de Double Exposure continua ecoando. Não como um esquecimento, mas como um lembrete. De que os jogos que tocam corações são feitos por pessoas — e que elas merecem ser reconhecidas, protegidas e respeitadas.


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Bruno Chaves

Sou Designer e criador de conteúdo. Tenho paixão pela cultura Pop e papo geek. Escrevo sobre jogos, animes, filmes, tecnologia, tudo com o mesmo entusiasmo de um leitor ávido.

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